Só agora percebi que já se passaram cinco anos da publicação do meu primeiro livro em prosa, chamado “Enquanto ele estava morto…”.
Nesse livro fininho, eu narro os nove dias em que passei procurando pelo meu irmão, após eu receber um telefonema da minha irmã, com a informação de sua morte num garimpo na Bahia. Paralelo à procura, eu revisito as minhas memórias de uma família desestabilizada: mãe abandonada pelo marido com seis filhos, sendo eu, o mais novo, com seis meses de idade.
O livro foi publicado graças a uma lei de incentivo à cultura de Vila Velha, no Espírito Santo, estado de onde vim, e teve a tiragem de 1.000 exemplares, esgotados há três anos.
Para comemorar os cinco anos de sua publicação, contarei cinco curiosidades sobre o livro.
1 – Estreia como ilustrador autoral
Amante dos quadrinhos como sou, sempre desenhei e trabalhei em jornais fazendo ilustrações editoriais, mas não me sentia seguro o bastante para desenhar minhas próprias histórias, naturalmente mais longas.
O problema é que me faltava referências visuais (fotografias) minhas para que um ilustrador me desenhasse na minha infância. O que acontecia com freqüência é que me desenhavam gordo e de óculos, características adquiridas e nunca mais abandonadas a partir dos 20 anos.
Como era difícil explicar as características de muitos dos meus parentes e amigos representados no livro, eu resolvi desenhá-lo. Pela primeira vez eu realizei um trabalho onde eu era responsável pelo texto e pela arte. Essa experiência viria se repetir no ano seguinte, com a criação da tirinha Os Passarinhos.
2 – O livro foi financiado pela prefeitura de Vila Velha (ES), mas foi finalizado em Niterói (RJ)
Eu havia decidido a me mudar quando recebi o resultado de que o meu trabalho havia sido escolhido. Comecei o processo de diagramação do livro, mas o prazo apertou e eu precisava entregar a casa alugada em Vitória/ES. As ilustrações foram feitas nas primeiras semanas no bairro de Santa Rosa, em Niterói e impresso na Gráfica A1, em Vitória.
3 – Foram apenas oito pessoas no lançamento, mas foi inesquecível
Uma das regras do recebimento do recurso de produção do livro é que o lançamento fosse realizado no município de Vila Velha. Depois de olhar os dias disponíveis da única livraria que eu conhecia no município, fiz o lançamento na tarde de quinta-feira no centro da cidade. A maior parte das pessoas que eu conhecia morava em Vitória ou na Serra, cidades vizinhas, e estavam trabalhando naquele momento.
Em uma hora de lançamento apareceu apenas um vereador, para comprovar que o livro foi lançado – e não comprou um exemplar. Meia hora depois apareceu um amigo e logo foi embora. Quando eu estava recolhendo as coisas para ir embora, apareceu meu irmão e sua família e a minha irmã mais velha, juntamente com meu sobrinho. Essas duas famílias não se viam a quase 20 anos, devido a uma briga.
Graças aquele lançamento, eles se viram e conversaram, deixando para trás uma parte amarga da nossa história.
4 – Segundo livro escrito, primeiro livro publicado
Na minha carreira como quadrinhista até o momento que escrevi “Enquanto…”, eu já tinha escrito roteiros para mais de 500 páginas de quadrinhos, mas nunca havia publicado um livro em prosa. Apesar do livro onde conto as minhas agruras ter sido o primeiro publicado, ele foi o segundo a ser criado, em fevereiro de 2007, e levou um mês para ser escrito.
Porém, o thriller paranormal “A Corrente” começou a ser escrito em março de 2003, terminando um ano depois, sendo assim, meu primeiro trabalho em prosa, lançado apenas em 2009, um ano depois de “Enquanto ele estava morto…”
É verdade que em 2008 eu reescrevi boa parte de “A Corrente”, inclusive mudando o final,mas isso é conversa para outra hora.
5 – Leitores ilustres
Quando eu anunciei o livro numa lista de discussão de roteiristas de TV, um senhor me pediu informações de como podia adquirir o livro.
Eu, sem titubear, pedi seu endereço e enviei o livro. Dias depois, ao perguntar se o livro havia chegado, recebi a seguinte mensagem, da qual retiro alguns trechos, editados por causa de spoliers:
“Caro Estevão.
Não só recebi, como li e gostei. Muito legal.
…
Muito interessante o leitor conhecer a personalidade dele, com seus contrastes à medida que a leitura progride.
…
Confesso que fiquei com lágrimas nos olhos quando você prefere caminhar alguns quilômetros, para não pedir dinheiro a ele e ele não deixa que você se vá sem oferecê-lo. Parabéns. Tomara que seu livro tenha bastante sucesso.
Abraços
Roberto Farias”
Eu não havia ligado o nome a pessoa, mas Roberto Farias é irmão de Reginaldo Faria e um dos grandes cineastas de nosso país, e entre os filmes que dirigiu, estão alguns da série “Roberto Carlos” (em Ritmo de Aventura, e o Diamante Cor de Rosa, a 300 Quilômetros por Hora), Os Trapalhões e o Auto da Compadecida, Pra Frente Brasil… Foi havia sido uma honra ver alguém tão interessado em dar um retorno sobre a leitura, mas foi o máximo saber que a pessoa em questão tinha feito tanta coisa dentro de uma área que admiro demais.
O outro grande leitor foi uma pessoa que citei no livro. Lázaro Ramos.
Em uma passagem do problema que me meti, devidamente narrado no livro, já estava imaginando que, daquela experiência traumática, faria um livro, e que esse livro viraria um filme. Enquanto eu andava pelas ruas de Vitória imaginando como eu resolveria a situação, eu imaginava Lázaro Ramos me interpretando, tornando a história um pouco mais leve e, quem sabe, com um final feliz.
Ao deixar o livro em sua produtora, recebi a seguinte declaração via e-mail:
“Estevão,
Foi um prazer ler seu livro e seus quadrinhos.
Ser citado num livro é uma honra que não achei que teria.
Parabéns por sua escrita, sua história e seus desenhos.
Muito obrigado e precisando é só chamar.
Lázaro Ramos”
Não preciso de mais nada, não é?
Depois de cinco anos, cá estou pensando em reapresentar o livro às editoras, uma vez que ele foi impresso com uma distribuição independente.
Vai que alguma editora se interesse, né?